Teatro para o nada

Curso de atuação com Bruna Trindade

(integrante dos Hanimais Hestranhos e do Grupo Lacuna)

“Passa da meia noite. Nunca soube de tamanho silêncio. A terra poderia estar desabitada.” (A Última Gravação de Krapp)

Será possível fazer um teatro que contemple nossa impotência e fraqueza? Como criar a partir do que nos resta, nesse pedaço de chão e teto que ocupamos?

Esta é a segunda turma da oficina TEATRO PARA O NADA que dá continuidade a pesquisa iniciada na primeira turma, agora com alunos novos e antigos. O curso é uma jornada em busca de uma atuação que tem mais interesse acerca das micro e macro percepções, sensações e escuta, investindo numa relação mais íntima com o próprio corpo. Qual modo de estar em cena descobrimos ao estarmos imersos em casa? Haveria, em nossa imobilidade, uma lacuna possível para germinar uma cena desconhecida?

Teatro para o nada, porque de fato estamos atuando para um espaço vazio de pessoas. Somos observados a partir de um dispositivo. E também porque este teatro não tem finalidade, não é útil. Não é produtivo. Não tem para onde ir. É um teatro que se faz na espera, na imobilidade e nas falhas. Mas ainda é teatro, ainda é.

Enquanto na primeira turma nos debruçamos sobre o “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, nessa estudaremos a peça “A última gravação de Krapp”, do mesmo autor. Os textos são nossa paisagem de criação: a partir dessas figuras estagnadas que esperam, escutam, e realizam ações “para nada”, repensaremos o que é o fazer teatral em nossa própria paragem.

Não se pretende reunir, durante esse encontro, uma série de modos de fazer como se tratassem de um manual de instrução para o ator. Tampouco estaremos em busca de um resultado previamente conhecido, ou de uma estética específica. A busca é por investigar a transitoriedade, o fluxo, a atenção e a memória, a partir da escuta do que se passa no/com o corpo, através também do contato com o outro (objetos, parceiros de cena, espaço e texto). Tem algo de silencioso no trabalho, de passivo, e de vazio.

3 de agosto a 5 de outubro - segundas, das 19h às 22h (horário de Brasília)

Carga horária: 30h (10 encontros x 3h)

Curso online através da plataforma Zoom

Valor: R$ 150 reais por mês (16 vagas)

Público-alvo:

A oficina é destinada a todo tipo de gente, inclusive àqueles que nunca fizeram aulas de teatro. O interesse pela não-homogeneidade desta turma parte do desejo de criar um ambiente em que as pessoas possam ter contato com aquilo é que diferente delas. Um pouco mais desconhecido. As vagas são limitadas, justamente porque haverá um trabalho particular feito com cada um dos alunos.

Inscrições encerradas

Professora:

Bruna Trindade é artista multidisciplinar. Formada em Atuação Cênica pela UNIRIO e em direção de fotografia pela AIC, fundou o Grupo Lacuna em 2011. Entre os trabalhos, estão o solo A Mulher Que Virou Planta, que fez temporada no Rio de Janeiro em 2019, e o esquete Acordados, uma releitura de Romeu e Julieta que recebeu mais de 20 prêmios em festivais de esquetes pelo Brasil. Bruna também integra os grupos Hanimais Hestranhos, dirigido por Tatiana Motta Lima, que trabalha com as obras de Samuel Beckett e Fernando Pessoa (hanimaishestranhos.wixsite.com/arts), e a Caravana Haole, dirigida por Jopa Moraes. Juntos, estrearam a peça O Insaciável Zé Carioca no Espaço Armazém (RJ), e ministram a oficina Um Módulo Para o Vento, destinada a adolescentes. Atuou na websérie Bulbassaura Maravilha, e nos curtas Heterônimo e No dia em que lembrei da viagem à Bicuda, dirigidos por Vitor Medeiros e exibidos em festivais como Janela Internacional de Cinema de Recife e Mostra de Tiradentes. Foi produtora, atriz e cenógrafa do coletivo Lá vai Maria, realizando espetáculos como O Desbunde, que esteve no Circo Voador e no Circuito SESC-RJ. Atualmente, dá vozes aos seus personagens e investiga a auto-ficção em suas redes sociais (@amulherquevirou). Site com portfolio: brunatrindade.com

Bibliografia:

OBRIGATÓRIA

  • A última gravação de Krapp, de Samuel Beckett, tradução de Felipe Augusto Souza Santos, em A Poética do Fracasso, p.103

  • A noção da escuta: afetos, exemplos e reflexões, de Tatiana Motta Lima. LUME, p. 1-19.

COMPLEMENTAR

  • Esperando Godot, de Samuel Beckett. Tradução de Fábio de Souza Andrade - Cosacnaify

  • Conter o incontível: apontamentos sobre os conceitos de ‘estrutura’ e ‘espontaneidade’ em Grotowski, de Tatiana Motta Lima. Revista Sala Preta, v.5, p. 47-67, nov.2005.

  • Walter Benjamin: “Criança desordeira” no livro Obras escolhidas II: Rua de mão única (5ª ed.). (1995). São Paulo: Brasiliense.

  • A poética do Fracasso, de Felipe Augusto Souza, capítulo III: Samuel Beckett: dramaturgia e encenação. 3.1.1: Esperando Godot.

Registro da primeira turma, iniciada em junho/2020