Feminino e horror
Curso com Mariana Ramos
O horror é um dos gêneros mais populares e longevos dentro da cinematografia mundial. Ao longo dos mais de cem anos de história fílmica, suas convenções e linguagem específicas foram utilizadas para criar histórias que afetam profundamente os espectadores, despertando respostas potentes de medo, terror, repulsa, nojo e fascínio. Como repositório de ansiedades e sensações intensas o horror se mostra um gênero especialmente interessante para analisar os discursos sociais e fílmicos a respeito de suas figuras femininas e seus corpos, os quais ocupam um lugar central na maioria das narrativas do gênero: vítimas perseguidas e violentadas, protagonistas virginais insuspeitas, ou monstros perturbadores da ordem familiar.
O objetivo do curso é estimular leituras e interpretações feministas do gênero, pensando as ideologias propagadas por filmes de horror e o seu papel, assim como os discursos que constroem sobre relações de gênero e sexualidade. Essas leituras serão realizadas a partir da análise de filmes de horror, em face à conceituação teórica abordada na bibliografia proposta.
De 20 a 29 de outubro - terças e quintas, das 19hs às 21hs (horário de Brasília)
Carga horária: 8h (4 aulas x 2 horas)
Curso online através da plataforma Zoom. Caso algum aluno perca a aula ao vivo, será disponibilizada a gravação da mesma no dia seguinte.
Público-alvo:
Entusiastas do gênero do horror; pessoas interessadas em estudos narrativos e em teoria de gênero no cinema.; cinéfilos, estudantes de cinema e outras pessoas que se interessem por filmes, especialmente de horror, roteiristas, diretores e profissionais do audiovisual em geral.
Ementa completa:
Ao longo das aulas, serão abordados conceitos e teorias chaves sobre o cinema de horror e leituras feministas do mesmo. São eles:
O horror:
Conceituações sobre a natureza do gênero do horror no cinema e além dele; Os elementos do horror; A relação de espectatorialidade específica deste gênero, que desperta emoções fortes e corporais no público; O papel do horror como moldura discursiva para padrões de gênero e sexualidade e como os afetos que gera constroem discursos sociais complexos.
A figura da mulher no cinema:
Teorias sobre a representação feminina no cinema; A problemática do olhar e a objetificação da mulher; A violenta conformação de seus corpos e sexualidades através de narrativas moralizantes no cinema de horror.
O monstro e o mal:
Teorias sobre o papel dos monstros e do mal dentro do cinema de horror. O monstro como um aviso, uma forma de educar aqueles que com ele se deparam através do choque visual e do perigo implicado no encontro com um corpo repulsivo. O mal como um cerne de significação e chave de leitura. Finalmente, a figura feminina como representação do monstruoso e do mal e a figura do monstro como potencialidade revolucionária.
A aplicação do conteúdo estudado e as discussões em aula giram em torno da análise de filmes clássicos e contemporâneos de horror e outros gêneros que flertam com esse universo, estimulando debates sobre a influência do cinema na formação e propagação de normas sociais, especialmente normas de gênero e sexualidade.
Professora:
Mariana Ramos é formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com período sanduíche na New York University e na Cornell University, e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, onde estudou a representação feminina no cinema de horror anglófono dos anos 70 e 80 por um prisma histórico feminista. É roteirista, produtora e diretora. Ofereceu curso de Feminino e Horror na UFF e apresentou diversos trabalhos sobre o tema em encontros nacionais e internacionais. Dirigiu e roteirizou o curta metragem “Silêncio” (2018), além de webséries de variedade. Recentemente, co-escreveu e dirigiu a série documental de true crime “Horror no Horizonte”, uma co-produção de sua produtora, Terra Bruta, com o UOL, e está produzindo o curta metragem “Sebastiana”, selecionado pelo edital de fomento ao audiovisual de Niterói.
Bibliografia:
MEANS COLEMAN, Robin R. Horror Noire - Blacks in American Horror Films from the 1890s to the Present. New York: Routledge, 2011.
CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999.
CLOVER, Carol J. Men, Women, and Chain Saws: Gender in the Modern Horror Film. Princeton University Press: 1993.
CREED, Barbara. “Horror and the Monstrous Feminine: An Imaginary Abjection”. In. Screen (1986) 27 (1): 4471.
DE LAURETIS, Teresa. “Através do Espelho: Mulher, Cinema e Linguagem.” Tradução de Vera Pereira.
FREELAND, Cynthia A. “Feminist Framework For Horror Films”, In: BAUDRY, L.; COHEN, M. (Org.). Film theory and criticism. Oxford: Oxford University Press, 2004.
GRANT, Barry Keith. The Dread of Difference - Gender and the Horror Film. Austin: University of Texas, 2015.
HALBERSTAM, J. Skin Shows: Gothic Horror and The Technology of Monsters. Duke University Press, 2000.
MULVEY, Laura. “Prazer Visual e Cinema Narrativo”. In. Xavier, Ismail (org.). A Experiência do Cinema. Rio de Janeiro: Edições Graal.
SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Pedagogia dos Monstros - os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2000.
WILLIAMS, Linda. “Film Bodies: Gender, Genre and Excess.” Film Quarterly, Vol.44, No.4 Summer, 1991, 213.
_________________, “When Women Look: a sequel”. Acessado em http://sensesofcinema.com/2001/freudsworstnightmarespsychoanalysisandthehorrorfilm/hor ror_women/
Filmografia:
O Gabinete de Dr. Caligari (1920, Robert Wiene)
O Fantasma da Ópera (1925, Rupert Julian)
Sangue de Pantera (1942, Jacques Tourneur)
Os Filhos do Medo (1979, David Cronenberg)
Tubarão (1975, Steven Spielberg)
Repulsa ao Sexo (1965, Roman Polanski)
Irmãs Diabólicas (1972, Brian De Palma)
Carrie - A estranha (1976, Brian De Palma)
Alien - O oitavo passageiro (1979, Ridley Scott)
Halloween - A noite do terror (1978, John Carpenter)
Em minha Pele (2002, Marina de Van)
Nós (2019, Jordan Peele)