Corpos acústicos

Oficina com Bruna Trindade e Codorna Records

“Ser da mesma natureza que a música, uma série de vibrações do ar.” (Emanuele Coccia)

Corpos Acústicos é uma oficina que pretende investigar os modos de convivência entre o corpo e a música. Pensando não só como a música afeta e move o corpo, mas também inversamente, como o fluxo do corpo pode afetar e reger a música. Tal qual numa roda de capoeira Angola em que a bateria, os cantos corridos e os ‘jogadores’ estão em constante atravessamento - não se consegue distinguir direito aquele que guia e aquele que segue.

Ministrada pela atriz e pesquisadora Bruna Trindade em companhia dos músicos Bianca Godói e João Nhoque, o curso se dá na interação em tempo real entre os corpos que, através de algum objeto (instrumentos ou não), emitem som, e os corpos que se movem.

Ementa completa (clique aqui)

Exercícios de percepção
A oficina é uma jornada em busca de uma escuta mais sutil, menos afeita aos processos agitados de ação e reação tão comuns no meio teatral e musical. Trabalharemos acerca das micro e macro percepções para que os corpos e os músicos possam sair de uma lógica da expressão e partir para uma lógica da impressão. Ao invés da necessidade individual de expressar/representar, buscaremos a possibilidade de perceber e deixar transparecer o que já está acontecendo. Ao contrário de almejar produzir uma sonoridade dentro de uma estética específica, guiada às vezes por um certo virtuosismo, descobriremos que música nasce do contato com o outro (o espaço, as coisas, os corpos).

Improvisações estruturadas
Também trabalharemos a partir de jogos e dispositivos com regras concretas: conjuntos de ações previamente elaboradas e então memorizadas pelos jogadores (músicos e corpos). Os improvisos possuem um contorno rascunhado mas o que dá sua vida e forma é a convivência atenta entre os jogadores. Na medida em que se incorpora o acaso e a indeterminação, a mesma estrutura pode ser vivida de infinitas maneiras a cada jogo.
Não desejamos que as ações sejam realizadas enquanto acontecimentos recortados, quase independentes entre si. Mas sim, tal qual uma cascata de dominó, perceber como uma ação leva a outra por uma espécie de contágio recíproco. A diferença, por enquanto, pode não estar tão evidente, mas ela se dá concretamente quando estamos trabalhando a partir de uma percepção mais detalhada.

“A vida enquanto imersão é a vida em que nossos olhos são ouvidos. Sentir é sempre tocar a um só tempo em si mesmo e no universo que nos rodeia.” - Emanuele Coccia

Caminharemos em companhia do livro A Vida Das Plantas: uma metafísica da mistura, de Emanuele Coccia, que repensa o que é estar-no-mundo a partir da plantas. Então, nos interessa pensar modos de afeto e convivência, mesmo que com cada um em suas casas. Como o trabalho sobre a percepção pode nos oferecer uma vida conjunta? Como estar com o outro, habitando um fluxo coletivo, e ser fiel a você mesmo, ao seu próprio fluxo? São perguntas que não almejamos responder conceitualmente, mas degustar suas possibilidades na prática.

Álbum-cênico
Que forma toma a regência e a composição quando transitam entre diferentes corpos, com hierarquias instáveis? Que forma toma a música quando composta a partir dessa interação entre os corpos?
A última etapa do trabalho consiste na composição em grupo de um álbum-cênico experimental, partindo dos exercícios e das improvisações estruturadas. Partilharemos com o público em uma apresentação marcada de acordo com os desejos e as disponibilidades. Entretanto, a participação neste ato não é obrigatória, ficando a cargo de cada um escolher o que mais interessar.

10 de Setembro a 12 de Novembro - quintas, das 18h30 às 20h30 (horário de Brasília)

Carga horária: 20h (10 aulas x 2 horas)

Curso online através da plataforma Zoom. As gravações das aulas não serão disponibilizadas posteriormente.

Público-alvo:

Estudantes ou profissionais das artes performativas (teatro, performance, dança e circo); Músicos amadores ou profissionais, interessados numa pesquisa experimental; Pessoas interessadas nos diálogos entre música e corpo, e outros caminhos possíveis para a composição musical e cênica.

O interesse pela não-homogeneidade desta turma parte do desejo de criar um ambiente em que as pessoas possam ter contato com aquilo que é diferente delas. Um pouco mais desconhecido. As vagas são limitadas, justamente porque haverá um trabalho particular feito com cada um dos alunos.

Professores:

Bruna Trindade
é artista multidisciplinar. Formada em Atuação Cênica pela UNIRIO e em direção de fotografia pela AIC, fundou o Grupo Lacuna em 2011. Entre os trabalhos, estão o solo A Mulher Que Virou Planta, que fez temporada no Rio de Janeiro em 2019, e o esquete Acordados, uma releitura de Romeu e Julieta que recebeu mais de 20 prêmios em festivais de esquetes pelo Brasil. Bruna também integra os grupos Hanimais Hestranhos, dirigido por Tatiana Motta Lima, que trabalha com as obras de Samuel Beckett e Fernando Pessoa (hanimaishestranhos.wixsite.com/arts), e a Caravana Haole, dirigida por Jopa Moraes. Juntos, estrearam a peça O Insaciável Zé Carioca no Espaço Armazém (RJ), e ministram a oficina Um Módulo Para o Vento, destinada a adolescentes. Atuou na websérie Bulbassaura Maravilha, e nos curtas Heterônimo e No dia em que lembrei da viagem à Bicuda, dirigidos por Vitor Medeiros e exibidos em festivais como Janela Internacional de Cinema de Recife e Mostra de Tiradentes. Foi produtora, atriz e cenógrafa do coletivo Lá vai Maria, realizando espetáculos como O Desbunde, que esteve no Circo Voador e no Circuito SESC-RJ. Atualmente, dá vozes aos seus personagens e investiga a auto-ficção em suas redes sociais (@amulherquevirou). Professora do curso TEATRO PARA O NADA, que está atualmente no segundo módulo. Site com portfolio: brunatrindade.com

Codorna Records
é formado por Bianca Godói e João Noque como um espaço de criação, gravação e produção musical. Seu primeiro trabalho em conjunto, a trilha sonora para a peça "A Mulher Que Virou Planta", foi prensado em vinil pela VinilLab.
Bia trabalhou, principalmente como baterista, com diversos artistas, entre eles Maria Gadú, Não Recomendados e George Sauma, passando por festivais nacionais e internacionais; Atua com gravação em estúdio, além de produzir e compor trilhas sonoras. Seu primeiro disco autoral, intitulado Espaço-Tempo, será lançado em 2020.
João trabalhou, a partir de 2018, no estúdio Space Blues, em São Paulo, acompanhando o músico, produtor e engenheiro Alexandre Fontanetti; Participou de gravações de diversos artistas, como Nando Reis, Maria Rita, Céu, Chico César, Seu Jorge, Zeca Baleiro e As Bahias e a Cozinha Mineira.