Animações musicais fora do armário

Leituras queer de filmes da Disney com Jocimar Dias Jr. e Luiz F. Ulian

O que há nos musicais da Disney que atrai tanto o fascínio do público LGBT+? Tal pergunta já foi o ponto de partida de uma série de trabalhos acadêmicos que se debruçaram sobre o tema, de autores como Sean Griffin, Gwendolyn Limbach, Amanda Putnam e Gael Sweeney (que foram inspirados, por sua vez, em autores consagrados dos estudos queer, como Judith Butler, John D’Emilio e Richard Dyer). Suas pesquisas exploram não só a contribuição de artistas LGBT+ (desenhistas, diretores, compositores, etc) nos bastidores dos estúdios Disney, mas também aprofundam os estudos de recepção por espectadores LGBT+, explicitando subtextos queer nessas narrativas e em seus números musicais. Composto por 4 aulas expositivas, este curso será dedicado a abordar de maneira detalhada as perspectivas queer sobre os musicais da Disney, a partir de estudos de caso dos longas A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991), O Rei Leão (1994) e Mulan (1998).

22 e 29 de agosto, 05 e 12 de setembro - sábados, das 15h às 17h (horário de Brasília)

Carga horária: 8h (4 aulas x 2 horas)

Curso online através da plataforma Zoom. Caso algum aluno perca a aula ao vivo, será disponibilizada a gravação da mesma no dia seguinte.

Público-alvo:

Estudantes de cinema e audiovisual, de animação no cinema, de teatro musical, estudiosos de cultura LGBT+ e demais interessades em ampliar seus conhecimentos sobre estudos do gênero musical, questões queer e LGBT+ no cinema e perspectivas críticas sobre os filmes da Disney. Não é necessário conhecimento prévio de linguagem cinematográfica ou de teoria queer para acompanhar o curso. Curso teórico destinado a pessoas maiores de 18 anos.

Ementa completa:

Aula 1 - A Pequena Sereia (1989)

Aspectos queer do cinema de animação. Contextualização histórica do trabalho de artistas LGBT+ nos estúdios Disney. A vida e obra do compositor gay Howard Ashman (parte 1). Leitura queer de números musicais de A Pequena Sereia (1989), a partir da “sensibilidade gay” de Ashman.

Aula 2 - A Bela e a Fera (1991)

A vida e a obra do compositor gay Howard Ashman (parte 2). O impacto da epidemia de HIV/AIDS na cultura LGBT+. Breve contextualização dos movimentos sociais em torno da questão do HIV/AIDS nos EUA. Espectatorialidades LGBT+. Leitura queer de A Bela e a Fera (1991) como metáfora do HIV/AIDS.

Aula 3 - O Rei Leão (1994)

Timão e Pumba: apenas amigos? A dublagem de Timão por Nathan Lane (ator abertamente gay) e a inclusão de aspectos da vivência gay judaica urbana americana como subtexto do personagem. Interpretação da função dos homossexuais na monarquia hetero-patriarcal de O Rei Leão (1994), a partir das relações entre identidade gay e capitalismo.

Aula 4 - Mulan (1998)

Questões de gênero em Mulan (1998): não-binariedade ou reforço dos padrões de gênero? Apropriação de elementos culturais chineses e transposição para as discussões de gênero em voga na sociedade americana da época. Leituras queer dos números musicais: a questão da auto-imagem no espelho na canção “Imagem”; transitoriedade de gênero em "Homem Ser".

Professores:

Jocimar Dias Jr. - Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF), onde desenvolve tese focada em releituras queer das chanchadas carnavalescas de Watson Macedo. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF) e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição (UFF, 2014), com passagem pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), em Lisboa (2011-2012). Suas pesquisas são dedicadas aos estudos do gênero musical no cinema, tendo lecionado disciplinas sobre o tema para a graduação do curso de cinema da UFF como parte do estágio docência -- “Musicais: Utopias no Audiovisual” (2016) e “Musicais: Utopias (Queer) no Audiovisual” (2018, em parceria com Luiz F. Ulian). Entre 2013 e 2014, trabalhou como assistente de direção na Rede Globo de Televisão, nos programas “Amor à Vida”, “Tapas e Beijos”, “Tá no Ar” e “Malhação Sonhos”. Foi assistente de direção e roteirista da série documental “Diários sobre o Corpo”, exibida nas TVs públicas em 2017 e atualmente disponível no Amazon Prime. Como realizador, dirigiu “Ensaio sobre minha mãe” (2014), curta-metragem musical exibido em 24 festivais nacionais e internacionais, angariando premiações nos festivais: 26º Kinoforum (SP), 7º Kino-Olho (SP), 9º CineMúsica (RJ), 5º Festival Universitário de Alagoas (AL), II MOV (PE) e 13º MIFEC (Porto, Portugal). É um dos editores da Revista Moventes.

Luiz F. Ulian - Pesquisador graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (2016) e mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGCom-UFRJ), onde desenvolveu a pesquisa “Estranhos que Cantam e Dançam: Potências Dissidentes no Cinema Musical” (2019), disponível no acervo ECO/UFRJ. Ministrou aulas na UFRJ e na UFF, nas disciplinas “Seminário Nascido em Chamas: Cinema Queer”, ao lado do Prof. Dr. Denilson Lopes (2017) e do pesquisador Prof. Me. Ricardo Duarte Filho, e “Musicais: Utopias (Queer) no Audiovisual”, juntamente com o Prof. Me. Jocimar Dias Jr. (2018). Investiga Cinema, Estética, Comunicação, e suas possíveis ligações com questões queer e LGBT+, tendo apresentado trabalhos nesses temas em eventos acadêmicos no Brasil e no exterior (Film Philosophy Conference, 2018). Diretor do curta-metragem “Sétimo Dia” (2016). Desenvolveu projetos relacionados a Cinema e Educação entre 2014 e 2016, em projeto de extensão universitária (2014) e como produtor e curador de oficinas e mostras temáticas em escola pública do Rio de Janeiro, em áreas como Linguagem Cinematográfica, Roteiro Audiovisual e Cinema ligado a questões LGBT+.

Bibliografia:

  • BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

  • D’EMILIO, John. “Capitalism and Gay Identity.” In: HALPERIN, David M., ABELOVE, Henry, BARALE, Michele Aina (ed.). The Lesbian and Gay Studies Reader. New York: Routledge, 1993.

  • GRIFFIN, Sean. Tinker Belles and Evil Queens: The Walt Disney Company from the Inside Out. New York: NYU Press, 2000.

  • GRIFFIN, Sean. “Pronoun Trouble: The Queerness of Animation”. In: BENSHOFF, Harry, GRIFFIN, Sean (ed.). Queer Cinema, The Film Reader. London: Routledge, 2004.

  • LIMBACH, Gwendolyn. “You the Man, Well, Sorta”: Gender Binaries and Liminality in Mulan. In: CHEU, Johnson (ed.). Diversity in Disney Films: Critical Essays on Race, Ethnicity, Gender, Sexuality and Disability. London: McFarland & Company, 2013. p. 115-128.

  • PUTNAM, Amanda. “Mean Ladies: Transgendered Villains in Disney Films”. In: CHEU, Johnson (ed.). Diversity in Disney Films: Critical Essays on Race, Ethnicity, Gender, Sexuality and Disability. London: McFarland & Company, 2013. p. 147-162.

  • SWEENEY, Gael. “What Do You Want Me to Do? Dress in Drag and Do the Hula?”: Timon and Pumbaa’s Alternative Lifestyle Dilemma in The Lion King. In: CHEU, Johnson (ed.). Diversity in Disney Films: Critical Essays on Race, Ethnicity, Gender, Sexuality and Disability. London: McFarland & Company, 2013. p. 129-146.

Obs: Nos casos em que o texto original ainda não tenha uma versão traduzida, um texto alternativo sobre a mesma temática, em língua portuguesa, será fornecido para os/as alunos/as.