Conteúdo audiovisual para crianças

Curso com Arthur Fiel e Hermínia Bragança

Como funciona o mercado contemporâneo para produções infantis? Que diálogos o cinema e a televisão têm estabelecido com esse público? Irmão do Jorel, Show da Luna, D.P.A., Galinha Pintadinha, Peixonauta, Meu AmigãoZão, Castelo Rá-Tim-Bum, Gaby Estrella, Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas... são muitos os casos de sucesso de produções brasileiras para o público infantil. As crianças hoje vivem em um mundo cheio de telas, dispositivos através dos quais acessam uma enormidade de conteúdos. É cada vez maior a demanda por histórias de qualidade que possam transitar nesses espaços, bem como por profissionais preparados para lidar com as especificidades do público infantil.

O curso destina-se àqueles que pretendem realizar conteúdos audiovisuais para crianças e todos aqueles que se interessam em atuar ou pesquisar sobre os múltiplos diálogos entre a criança e o audiovisual. Algumas discussões e questionamentos estarão presentes no programa do curso: Quem é a criança com a qual se pretende falar? Como a criança usa e se apropria do que vê nas telas? Quem está representado nos conteúdos? Como se estabelecem as narrativas? Assim, o objetivo do curso é refletir sobre alguns dos desafios que estão colocados hoje na concepção, produção e veiculação de conteúdos audiovisuais para crianças.

22 de Setembro a 08 de Outubro - terças e quintas, das 15h às 17h (horário de Brasília)

Carga horária: 12h (6 aulas x 2 horas)

Curso ministrado através da plataforma Zoom. Caso algum aluno perca uma aula ao vivo, será disponibilizada a gravação da mesma no dia seguinte.

Público-alvo:

Criadores de conteúdo voltado para público infantil; Roteiristas avançados e iniciantes; Diretores; Produtores; Estudantes; Pessoas interessadas em adquirir conhecimento acerca da história, do mercado, da linguagem e dos formatos de conteúdos audiovisuais destinados ao público infantil.

Ementa completa:

Aula 1: A criança
Com quem falamos ao produzir conteúdos audiovisuais para crianças? O que dizemos? O conceito de infância e o lugar da criança na sociedade através da história e sob o prisma de diferentes áreas: educação, psicologia, antropologia, sociologia. A infância como representação da pureza, felicidade, esperança. A forma como as representações da infância moldam o discurso dos conteúdos audiovisuais dirigidos às crianças.

Aula 2: Breve história do conteúdo infantil no cinema e na TV do Brasil
As primeiras produções destinadas às crianças no cinema e na televisão. “Estética circo”, “Estética parque” e modelos de produção dos anos 50. O efeito “copia e cola”. Casos de sucesso: Capitão Furacão, Vila Sésamo, Sítio do Pica-Pau Amarelo, Balão Mágico, Os Trapalhões, Xou da Xuxa, Castelo Rá-Tim-Bum, etc. Anos 2000: reconfiguração nos moldes de produção e circulação do conteúdo infantil.

Aula 3: Novos mercados, janelas e formatos
Afinal, onde estamos agora? Leis de incentivo, editais e chamadas públicas destinados à produção de conteúdo para criança – ProAnimação, Curta Criança, Chamada SAV, Petrobras Cultural. Janelas e mercados: cinema, televisão, streaming, Youtube e outras janelas. Dinâmicas de linguagens, gêneros e formatos: curtas, longas, games e média; animação, live-action, realities e documentários – estudos de casos: Peixonauta, Lé com Cré, A Galinha Pintadinha, entre outros.

Aula 4: Recepção, resistências e reinvenções
O que a criança faz com o que vê, ouve e vivencia diante da tela? A recepção como processo ativo e criativo. Os “usos” e apropriações: brincadeiras, jogos, experimentações, recriações, universos expandidos, misturas, transformações e subversões. Brincar com o personagem e de ser personagem. Resistências à imagem da criança frágil e inocente.

Aula 5: Representações: ausências e desafios
Quem está representado na tela? A predominância de animações americanas e japonesas, de personagens masculinos, brancos e corpos idealizados nos conteúdos audiovisuais para crianças. Furando a bolha: personagens negros, personagens transgênero, personagens com deficiência. Ressignificando os papéis femininos: guerreira, aventureira, cientista, inventora. Histórias africanas, histórias latino-americanas, regionalidades brasileiras.

Aula 6: Construindo narrativas para crianças
Características cognitivas e fases do desenvolvimento infantil. Escrevendo para as diversas faixas etárias que compõem a infância: primeira infância (0-3 anos); pré-escolar (3-5 anos); idade escolar (5-7 anos); conexões para além do lar (7-9 anos); a criança crescida, seu espaço e lugar (10-12 anos). Compreendendo o público-alvo: público primário e públicos secundários. A criança dentro de quem escreve e as crianças para quem se escreve - formas de se conectar.

Professores:

Hermínia Bragança
é doutoranda no Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual (PPG-Cine) na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde desenvolve uma pesquisa, no escopo dos estudos de recepção, sobre “usos e apropriações” que a criança faz dos conteúdos audiovisuais. É graduada em cinema na UFF (1994) e mestre em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III (2009), onde realizou uma pesquisa sobre a viagem ao “mundo da fantasia” no cinema infantil. Foi coordenadora de conteúdo na TV Brasil/EBC (2010-2016), onde supervisionou as séries Sésamo, Igarapé Mágico, O Teco Teco, entre outras. Trabalhou para o Canal Futura (1997-2001), onde dirigiu a série de 346 episódios Alô Vídeo Escola (para o público de 7 a 10 anos). Na MultiRio (2004-2007) foi diretora dos programas Uni-Duni-TV (3 a 6 anos) e Abrindo o Verbo (adolescentes) e coordenadora do projeto de mídia educação “Encontrei um Tesouro: Sei contar Histórias”, cujo trabalho final, Final Feliz para a Pequena Vendedora de Fósforos, foi selecionado entre os finalistas do Japan Prize 2006. Ministrou, com Patrícia Alves Dias, o workshop oferecido aos vencedores do Curta Criança (2009). Participou, como júri, de diferentes festivais e concursos, tais como Telas – Festival Internacional de Televisão de São Paulo, Festival comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano, Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, PRODAV TVs Públicas.

Arthur Fiel
é Mestre em Cinema e Audiovisual pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCINE/UFF), no qual desenvolveu a dissertação intitulada “A Tela Encantada: infância e conteúdo infantil na TV do Brasil”, que, em um de seus desdobramentos rendeu na publicação “Da Telona à Telinha: um olhar ao conteúdo infantil no Cinema e na TV do Brasil”, premiada na II edição da Revista de Audiovisual do Mercosul (RECAM). Roteirizou, produziu e dirigiu o curta-metragem infantil Dando Asas à Imaginação, selecionado no Edital ELIPSE 2016/2017, patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e Fundação Cesgranrio. Atualmente é Professor Assistente do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, onde coordena um grupo de extensão e produção de conteúdos animados destinados à formação científica do público infantil. É consultor de desenvolvimento de conteúdos destinado a crianças e autor de diversos estudos sobre história, políticas e narrativas audiovisuais direcionados às crianças.

Bibliografia:

  • AVIRAM, Motti. The complete guide to screenwriting for children’s film and television. Israel: Author’s Edition, 2010.

  • BROUGÈRE, Gilles. Brincadeira, Brinquedo e Televisão. In: ____. Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez, 2010. P. 53-63.


  • FIEL, Arthur Felipe de Oliveira. A Tela Encantada: infância e conteúdo infantil na TV do Brasil. Dissertação de Mestrado, Niterói, UFF, 2019.

  • MARTÍN-BARBERO, Jesús. PRÓLOGO/ENTREVISTA “yo no fui a buscar los efectos, sino los reconocimientos” in BONILLA, J.; CATAÑO, M.; RINCÓN, O.; ZULUAGA, J. De las audiencias contemplativas a los productores conectados. Cali: Sello Editorial Javeriano, 2012.

  • MELO, João Batista, 1960-. Lanterna Mágica: infância e cinema infantil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

  • OROZCO GÓMEZ, Guillermo. O telespectador frente à televisão. Uma exploração do processo de recepção televisiva. Communicare–Revista de pesquisa. São Paulo: Faculdade Cásper Líbero, v. 5, n. 1, p. 1o, 2005.

  • PINTO, M.; SARMENTO, M. J. As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo. In: ____ As crianças: contextos e identidades. Minho: Universidade do Minho – Centro de Estudos da Criança, 1997. P. 7-30.

  • SALGADO, Raquel Gonçalves. Da menina meiga à heroína superpoderosa: infância, gênero e poder nas cenas da ficção e da vida. Cad. Cedes, Campinas, vol. 32, n. 86, p. 117-136, 2012.