Cânones do cinema queer: Richard Dyer

curso com Jocimar Dias Jr.

A obra de Richard Dyer é fundamental para a elaboração de uma historiografia queer do cinema que leva em conta não apenas a representação de personagens homossexuais nos filmes, mas também questões de gênero e sexualidade atreladas a autoria fílmica, recepção cinematográfica e estudos de estrelismo. Se por um lado a teoria queer resiste à ideia de “canônico”, por outro, certos/as autores/as, como Dyer, se destacam pelos olhares inovadores com que contribuíram para a consolidação desse campo de investigação cinematográfica.

Este primeiro módulo do curso “Cânones do Cinema Queer” propõe um passeio pela obra do autor, a partir de quatro tópicos principais: (1) diferentes concepções de homossexualidade masculina e feminina nos filmes alemães antes da ascensão do nazismo; (2) espectadores gays e a relação especial com divas/estrelas femininas como Judy Garland; (3) a homossexualidade “no ármario” do galã Rock Hudson e as releituras queer de seus filmes; (4) os filmes históricos com personagens homossexuais e a encenação de um “legado cultural” dos dissidentes sexuais no cinema.


26 de maio a 16 de junho - quartas-feiras, das 18h às 20h (horário de Brasília)

Carga horária: 8h (4 aulas x 2h)

Curso online através da plataforma Zoom. Caso algum aluno perca a aula ao vivo, será disponibilizada a gravação da mesma no dia seguinte.

Valor: R$ 200,00

Público-alvo:

Estudantes de cinema e audiovisual, cineastas, roteiristas e interessados/as/es em geral nos seguintes tópicos: historiografia queer do cinema; cinema, literatura e representação LGBT+; estudos queer das figuras estelares no cinema; autoria queer no cinema; teoria da recepção e espectatorialidades queer. Não é necessário conhecimento prévio de linguagem cinematográfica ou de teoria queer para acompanhar o curso.

Ementa completa:

Aula 1

Antes da ascensão de Hitler ao poder e da perseguição nazista a grupos minoritários, como os filmes alemães produzidos durante a República de Weimar (1919-1933) tematizavam questões de gênero e sexualidade? Dyer analisa detalhadamente as diferentes concepções de homossexualidade masculina representadas em Diferente dos Outros (1919), dirigido por Richard Oswald e que contou com a colaboração direta de Magnus Hirschfeld, médico e sexólogo pioneiro na defesa dos direitos dos homossexuais, no roteiro do filme; e a representação lésbica em Senhoritas em Uniforme (1932), dirigido por Leontine Sagan sob supervisão de Carl Froelich, filme baseado em livro e peça da autora lésbica Christa Winsloe.

Aula 2

Por que Judy Garland se tornou um ícone entre fãs homossexuais? Da canção “Over The Rainbow” de O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939) transformada em hino gay até a constante imitação de seus trejeitos em performances drag, por que sua figura estelar era tão adorada? Através de extensa análise de documentos escritos por homossexuais (cartas, artigos em jornais e revistas, livros), Dyer verifica como certas qualidades da artista reverberavam com as práticas das subculturas gays, principalmente seu ar interiorano (ordinariedade), sua ambiguidade de gênero (androginia) e seu humor debochado (camp). O autor também analisa como narrativas de superação do fracasso, tipo Nasce Uma Estrela (1954, dirigido pelo homossexual George Cukor), ou o autobiográfico Na Glória, a Amargura (Ronald Neame, 1963), foram lidas como metáforas do “armário” por espectadores gays.

Aula 3

Com o repentino falecimento de Rock Hudson vítima da AIDS, a homossexualidade de um dos maiores astros de Hollywood foi exposta na arena pública através de manchetes desrespeitosas e estigmatizantes. Para além da cobertura sensacionalista dos tablóides, Richard Dyer propõe leituras queer dos filmes comerciais estrelados por Hudson, reavaliando o status ambíguo da “virilidade” e da “heterossexualidade” que o galã incorporava em suas performances. Entre os filmes analisados, estão comédias românticas (como Confidências à Meia-Noite, 1959), os melodramas dirigidos por Douglas Sirk (como Tudo que o Céu Permite, 1955), e a metáfora de sua homossexualidade no armário em um dos raros filmes “de arte” que estrelou, O Segundo Rosto (Seconds, 1966), de John Frankenheimer.

Aula 4

Como filmes históricos representam personagens homossexuais no passado? Que tipo de “legado” cultural homossexual eles imaginam e encenam? Com ênfase na análise dos figurinos dos personagens, Dyer evidencia como tais filmes transpõem para outras épocas questões de gênero, sexualidade e classe caras ao movimento de liberação homossexual pós-Stonewall, como o máxima do “seja você mesmo” e o ato de “sair do armário”. Entre os longas a serem estudados, destacam-se Morte em Veneza (Luchino Visconti, 1971), Ernesto (Salvatore Samperi, 1979), Maurice (James Ivory, 1989), inspirados respectivamente nas obras de temática homossexual de Thomas Mann, Umberto Saba e E. M. Forster, e Wilde (Brian Gilbert, 1999), baseado na biografia de Oscar Wilde.

Professor:

Jocimar Dias Jr. é doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF (PPGCine-UFF), onde desenvolve tese focada em releituras queer das chanchadas carnavalescas de Watson Macedo. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF (PPGCOM-UFF) e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição (UFF, 2014), com passagem pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), em Lisboa (2011-2012). Suas pesquisas são dedicadas aos estudos do gênero musical no cinema, tendo lecionado disciplinas sobre o tema para a graduação do curso de cinema da UFF como parte do estágio docência -- “Musicais: Utopias no Audiovisual” (2016) e “Musicais: Utopias (Queer) no Audiovisual” (2018, em parceria com Luiz F. Ulian). Entre 2013 e 2014, trabalhou como assistente de direção na Rede Globo de Televisão, nos programas “Amor à Vida”, “Tapas e Beijos”, “Tá no Ar” e “Malhação Sonhos”. Foi assistente de direção e roteirista da série documental “Diários sobre o Corpo”, exibida nas TVs públicas em 2017 e atualmente disponível no Amazon Prime. Como realizador, dirigiu “Ensaio sobre minha mãe” (2014), curta-metragem musical exibido em 24 festivais nacionais e internacionais, angariando premiações nos festivais: 26º Kinoforum (SP), 7º Kino-Olho (SP), 9º CineMúsica (RJ), 5º Festival Universitário de Alagoas (AL), II MOV (PE) e 13º MIFEC (Porto, Portugal). É um dos editores da Revista Moventes e um dos coordenadores dos cursos da Ritornelo Audiovisual.

Bibliografia:

Bibliografia

  • DYER, Richard. “Weimar: More or Less Like the Others”. In: DYER, Richard; PIDDUCK, Julianne. Now You See It: Studies in Lesbian and Gay Film. 2 ed. Londres e Nova York: Routledge, 2003.

  • ______. “Judy Garland and Gay Men”. In: DYER, Richard. Heavenly Bodies: Film Stars and Society. 2 ed. Londres e Nova York: Routledge, 2004.

  • ______. “Believing in Fairies: The Author and the Homosexual”; “It's Being So Camp as Keeps Us Going”; “Rock: The Last Guy You'd Have Figured?”; “Homosexuality and Heritage”. In: DYER, Richard. The Culture of Queers. Londres e Nova York: Routledge, 2002.