Musicais no cinema

Uma introdução teórica com Jocimar Dias Jr.

Neste curso, serão abordadas as principais chaves teóricas para a análise aprofundada dos musicais cinematográficos, seja em filmes mais antigos como “O Mágico de Oz” (1939) ou “Gigi” (1958), seja em títulos mais recentes, como "Moulin Rouge" (2001) ou "Mamma Mia!" (2008). Composto de 4 aulas expositivas, cada aula será dedicada a uma perspectiva conceitual diferente dentro dos estudos dos musicais, a saber: (1) a “sensação de utopia” nos números musicais, segundo Richard Dyer; (2) a ideia de “mito do entretenimento”, a partir de Jane Feuer; (3) a estrutura de duplo foco narrativo, cunhada por Rick Altman; (4) a crítica feminista de Lucy Fischer à objetificação do corpo feminino nos números musicais dirigidos por Busby Berkeley. (Ementa expandida abaixo)

22 de junho a 1 de julho - segundas e quartas, das 15h às 17h (horário de Brasília)

Carga horária: 8h (4 aulas x 2 horas)

Curso online através da plataforma Zoom. Caso algum aluno perca a aula ao vivo, será disponibilizada a gravação da mesma no dia seguinte.

Valor: R$ 60,00

Público-alvo:

Amantes de musicais e pessoas interessadas em ampliar seus conhecimentos sobre este gênero. Não é necessário conhecimento prévio de linguagem cinematográfica para acompanhar o curso.

Inscrições encerradas

Ementa completa:

Serão abordadas as principais chaves teóricas para a análise aprofundada dos musicais cinematográficos. Composto de 4 aulas expositivas, cada aula será dedicada a uma perspectiva conceitual diferente dentro dos estudos dos musicais, a saber:

Aula 1: A “sensação de utopia” no musical

Sonhar com um mundo sem conflitos, “utópico”, é um dos temas mais recorrentes nos filmes musicais. Em “O Mágico de Oz” (1939), a jovem Dorothy (Judy Garland) canta sobre um lugar “além do arco-íris”, onde a vida seria menos conflituosa e as angústias desapareceriam. Em Mamma Mia! (2008), durante a canção “Money, Money, Money”, Donna (Meryl Streep) se imagina curtindo uma vida abastada em um luxuoso iate, e “foge” temporariamente de sua realidade de dificuldade financeira. A partir das ideias de Richard Dyer, vamos entender de que maneiras os números musicais geralmente são respostas temporárias e utópicas a problemas bastantes concretos encontrados nas sociedades capitalistas, e as implicações políticas da “sensação de utopia” no musical.

Aula 2: A estrutura em duplo foco narrativo nos musicais

No multipremiado musical clássico “Gigi”, de Vincente Minnelli, as trajetórias da protagonista, Gigi, e seu interesse amoroso, Gaston, são colocadas em constante contraste por meio de rimas visuais. Segundo Rick Altman, há uma razão para isso: o musical apresenta uma característica narrativa que o distingue de outros gêneros cinematográficos, principalmente em relação à construção de seus roteiros. As jornadas do casal heterossexual protagonista são colocadas em constante paralelo, de forma a salientar suas diferenças de personalidade (e de gênero). A narrativa culmina no apaziguamento de todos os conflitos através do casamento, que sela a união do casal ao mesmo tempo em que reafirma diversos valores tidos como caros para a família tradicional americana. Esse tipo de estrutura, longe de ter caído em desuso, permanece viva em musicais recentes, conforme analisaremos em exemplos recentes, como Moulin Rouge (2001).

Aula 3: O musical autorreflexivo e o mito do entretenimento

Para Jane Feuer, o musical é um dos gêneros cinematográficos mais autorreflexivos - diversas narrativas musicais falam sobre o próprio processo de montagem de um musical. Nos “musicais de bastidores”, os ensaios do espetáculo são a “deixa” perfeita e verossímil para o início de um número musical. Musicais como “Cantando na Chuva” (1952) ou “A Roda da Fortuna” (1953) se utilizam de diversas estratégias narrativas para suavizar a transição entre a narrativa “real” e os números musicais em si. Para Feuer, tais táticas são os mitos da espontaneidade, da transparência e da integração (que em conjunto formam o mito do entretenimento). Através delas, o musical americano confecciona um mito sobre si mesmo, se colocando como expressão espontânea e natural da cultura norte-americana, ao mesmo tempo em que mascara sua própria hiper-fabricação e efetua uma série de apagamentos - característica que ainda se aplica se pensarmos em musicais contemporâneos, como High School Musical (2006).

Aula 4: A crítica feminista aos musicais de Busby Berkeley

Nos peculiares números musicais de Busby Berkeley nos anos 1930, vemos imagens caleidoscópicas dos corpos das dançarinas que, em conjunto e vistas de cima, formam figuras abstratas. Seguindo a teorização de Lucy Fischer, vamos abordar a crítica feminista a essa literal objetificação da figura feminina nos musicais, analisando exemplos de números coreografados e dirigidos por Berkeley, como em As Cavadoras de 1933 e Mulheres e Música (1934). Por fim, veremos exemplos de musicais contemporâneos que questionam ou subvertem tal padrão.

Professor:

Jocimar Dias Jr. é Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (PPGCine-UFF), onde desenvolve tese focada em releituras queer das chanchadas carnavalescas de Watson Macedo. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF) e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição (UFF, 2014), com passagem pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), em Lisboa (2011-2012). Suas pesquisas são dedicadas aos estudos do gênero musical no cinema, tendo lecionado disciplinas sobre o tema para a graduação do curso de cinema da UFF como parte do estágio docência -- “Musicais: Utopias no Audiovisual” (2016) e “Musicais: Utopias no Audiovisual” (2018, em parceria com Luiz F. Ulian). Entre 2013 e 2014, trabalhou como assistente de direção na Rede Globo de Televisão, nos programas “Amor à Vida”, “Tapas e Beijos”, “Tá no Ar” e “Malhação Sonhos”. Foi assistente de direção e roteirista da série documental “Diários sobre o Corpo”, exibida nas TVs públicas em 2017 e atualmente disponível no Amazon Prime. Como realizador, dirigiu “Ensaio sobre minha mãe” (2014), curta-metragem musical exibido em 24 festivais nacionais e internacionais, angariando premiações nos festivais: 26º Kinoforum (SP), 7º Kino-Olho (SP), 9º CineMúsica (RJ), 5º Festival Universitário de Alagoas (AL), II MOV (PE) e 13º MIFEC (Porto, Portugal). É um dos editores da Revista Moventes.

Bibliografia básica:

  • “Entretenimento e Utopia”, de Richard Dyer

  • “The American Film Musical as Dual-Focus Narrative”, de Rick Altman

  • “The Self Reflective Musical and the Myth of Entertainment”, de Jane Feuer

  • “The Image of Woman as Image: The Optical Politics of Dames”, de Lucy Fischer

Obs: Nos casos em que o texto original ainda não tenha uma versão traduzida, um texto alternativo sobre a mesma temática, em língua portuguesa, será fornecido para os/as alunos/as.